Avaliação do consumo de produtos naturais e suplementos vitamínicos por moradores do recôncavo da Bahia durante a pandemia da covid-19

Abstract

O uso de plantas medicinais é um hábito presente em várias culturas, auxiliando no tratamento de diversas patologias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 3,5 bilhões de pessoas, que vivem nos países em desenvolvimento, dependem de plantas medicinais e outros produtos naturais para manutenção da saúde. Desde que a OMS classificou o surto do SARS-CoV-2 como pandemia, tem sido incentivado por parte da população, o consumo de produtos naturais e suplementos vitamínicos como método profilático ou curativo para a COVID-19. Comprovadamente alguns desses elementos possuem propriedades capazes de promover a saúde para seus usuários, quando consumidos com moderação. No entanto, muitos destes produtos naturais não possuem seu perfil toxicológico estabelecido, podendo levar ao aparecimento de efeitos adversos e interferir nos efeitos de medicamentos usados concomitantemente. Desta forma, o objetivo geral deste estudo é estimar os riscos do consumo indiscriminado de produtos naturais e suplementos vitamínicos sobre a saúde de moradores do Recôncavo da Bahia durante a pandemia da COVID-19. Essa pesquisa faz-se necessária, considerando que a população da região do Recôncavo da Bahia apresenta hábitos culturais de consumo de produtos naturais, sendo muitas vezes indiscriminado. Para obtenção dos dados dos participantes, foi aplicado um questionário focado nas características sociodemográficas, o consumo dos produtos naturais e suplementos vitamínicos durante a pandemia da COVID-19, a fonte de obtenção destes produtos, forma de consumo, quem os recomendou, bem como o grau de conhecimento sobre riscos e benefícios do seu uso. Os questionários foram aplicados no mês de outubro de 2021 e direcionados aos moradores da região do Recôncavo da Bahia. Através de uma palestra educativa online foi discutida a importância do consumo moderado de produtos naturais e suplementos vitamínicos. Os questionários revelaram os produtos naturais mais utilizados pelos participantes, como o limão (Citrus sp.), que além de suas propriedades já conhecidas e disseminadas (rico em vitamina C e antioxidantes), apresenta características que o tornam um vegetal potencialmente protetor contra a infecção pela COVID-19. O alho e o mel, que também foram amplamente consumidos pelos entrevistados, possuem potencial terapêutico frente a sintomas gripais, que possuem semelhanças aos da COVID-19. Entretanto, o alho possui efeitos sobre a coagulação, podendo aumentar os riscos de hemorragia, semelhantemente ao gengibre. A indicação do consumo se deu prevalentemente por indicação de familiares e por hábito cultural, tendo o seu uso potencializado pelo anseio de prevenção e tratamento contra a COVID-19. O questionamento sobre o conhecimento referente aos riscos associados ao consumo indiscriminado destes produtos revela que são necessárias ações que disseminem informações à respeito, como palestras de conscientização direcionadas a população em geral sobre este hábito, diminuindo desta forma a ocorrência de possíveis efeitos adversos e estimulando o senso crítico referente às formulações caseiras que prometem fortalecimento da imunidade veiculadas pelos meios de comunicação. Sendo assim, fica evidente que a medicina tradicional vem exercendo por muitos anos um papel importante na saúde de várias comunidades, entretanto, apesar do conhecimento perpetuado por gerações acerca de produtos naturais e plantas medicinais, existem riscos à saúde que devem ser considerados. ________________________________________________________________________________________ ABSTRACT The use of medicinal plants is a habit present in many cultures, helping to treat different pathologies. According to the World Health Organization (WHO), more than 3.5 billion people, who live in developing countries, depend on medicinal plants and other natural products to maintain their health. Since the WHO classified the SARS CoV-2 outbreak as a pandemic, the population has encouraged the consumption of natural products and vitamin supplements as a prophylactic or curative method for COVID-19. It has been proven that some of these elements have properties capable of promoting health for their users, when consumed in moderation. However, many of these natural products do not have their toxicological profile established, which can lead to the appearance of adverse effects and interfere with the effects of drugs used concomitantly. Thus, the general objective of this study is to estimate the risks of indiscriminate consumption of natural products and vitamin supplements on the health of residents of Recôncavo da Bahia during the COVID-19 pandemic. This research is necessary, considering that the population of the Reconcavo da Bahia region has cultural habits of consumption of natural products, which are often indiscriminate. To obtain data from the participants, a questionnaire was applied focused on sociodemographic characteristics, consumption of natural products and vitamin supplements during the COVID-19 pandemic, the source of obtaining these products, form of consumption, who recommended them, as well as the degree of knowledge about risks and benefits of its use. The questionnaires were applied in October 2021 and directed to residents of the Reconcavo da Bahia region. Through an online educational lecture, the importance of moderate consumption of natural products and vitamin supplements was discussed. The questionnaires revealed the natural products most used by the participants, such as lemon (Citrus sp.), which, in addition to its already known and widespread properties (rich in vitamin C and antioxidants), has characteristics that make it a potentially protective vegetable against infection. by COVID-19. Garlic and honey, which were also widely consumed by the interviewees, have therapeutic potential against flu-like symptoms, which are similar to those of COVID-19. However, garlic has effects on clotting and may increase the risk of bleeding, similarly to ginger. The indication for consumption was predominantly given by family members and cultural habits, and its use was enhanced by the desire for prevention and treatment against COVID-19. Questioning about the knowledge regarding the risks associated with the indiscriminate consumption of these products reveals that actions are needed to disseminate information about it, such as awareness lectures aimed at the general population about this habit, thus reducing the occurrence of possible adverse effects and encouraging critical sense regarding homemade formulations that promise to strengthen the immunity conveyed by the media. Thus, it is evident that traditional medicine has for many years played an important role in the health of various communities, however, despite the knowledge perpetuated by generations about natural products and medicinal plants, there are health risks that must be considered.